A coesão textual é um dos elementos mais importantes da produção de textos. Ela garante que as ideias se conectem de forma lógica e fluida, facilitando a compreensão do leitor. Dentro desse tema, anáfora e catáfora ocupam papel de destaque: são mecanismos de coesão referencial que permitem retomar ou antecipar informações no texto, evitando repetições e enriquecendo o estilo.
Neste artigo, você, professor, encontrará uma explicação completa sobre o que são anáfora e catáfora, com exemplos práticos, orientações didáticas e sugestões de atividades para aplicar em sala de aula.
O que é coesão referencial?
Antes de entender o que são anáfora e catáfora, é importante compreender o conceito de coesão referencial. A coesão referencial é o recurso que mantém a continuidade do sentido em um texto, estabelecendo ligações entre palavras, expressões e ideias. Quando o autor precisa mencionar algo que já foi dito ou que ainda será dito, ele recorre a elementos linguísticos que substituem, retomam ou antecipam essas informações.
Esses elementos podem ser:
- Pronomes pessoais: ele, ela, eles, elas, o, a, os, as;
- Pronomes demonstrativos: este, esse, aquele, isso, aquilo;
- Pronomes possessivos: seu, sua, seus, suas;
- Sinônimos, elipses ou repetições controladas.
Dentro desse tipo de coesão, destacam-se dois processos fundamentais: anáfora (retomada) e catáfora (antecipação).
Veja também: Atividade de Anáfora e Catáfora para 6º Ano
O que é anáfora?
A anáfora é o recurso de coesão que retoma um termo já mencionado no texto.
Em outras palavras, é quando uma palavra ou expressão faz referência a algo que já apareceu anteriormente.
🔹 Exemplo 1
Maria chegou cedo à escola. Ela queria conversar com a professora.
Nesse caso, o pronome ela retoma Maria, que já havia sido citada. Isso evita a repetição de “Maria” e torna o texto mais natural.
🔹 Exemplo 2
Comprei um livro novo. Ele fala sobre mitologia grega.
O pronome ele é uma anáfora, pois retoma o termo livro novo.
A anáfora é extremamente comum nos textos, tanto orais quanto escritos, pois é o mecanismo natural de continuidade do discurso. Sempre que o autor quer evitar repetir um termo e mantém a referência clara, está utilizando a anáfora.
O que é catáfora?
A catáfora é o processo inverso: em vez de retomar algo já mencionado, antecipa uma informação que ainda será apresentada no texto.
Ou seja, o pronome ou expressão aparece antes do termo ao qual se refere.
🔹 Exemplo 1
Eles são muito estudiosos: João e Pedro sempre tiram boas notas.
Aqui, o pronome eles se refere a João e Pedro, que só aparecem depois.
Logo, é uma catáfora, porque o termo substituído ainda não foi dito.
🔹 Exemplo 2
Isso me deixa muito feliz: ver meus alunos aprendendo.
O pronome isso antecipa o conteúdo “ver meus alunos aprendendo”.
Portanto, temos uma catáfora.
A catáfora cria um efeito de expectativa, pois o leitor precisa continuar lendo para descobrir a que o pronome se refere. É muito usada em textos narrativos e argumentativos.
Diferença entre anáfora e catáfora
A diferença principal está na direção da referência:
| Tipo de referência | O pronome se refere a… | Exemplo |
|---|---|---|
| Algo anterior no texto | “Maria chegou. Ela estava cansada.” | Anáfora |
| Algo posterior no texto | “Ela estava cansada: Maria chegou.” | Catáfora |
Uma forma fácil de lembrar é:
- Anáfora = “para trás” (retoma);
- Catáfora = “para frente” (antecipa).
Tipos de elementos anafóricos e catafóricos
Nem sempre a anáfora e a catáfora se realizam por meio de pronomes. Elas podem ocorrer de várias formas:
a) Por pronomes
A menina saiu cedo. Ela estava apressada.
(Anáfora)
Ele não queria mais saber daquilo: o rapaz estava exausto.
(Catáfora)
b) Por expressões sinônimas ou equivalentes
A capital francesa é encantadora. Paris recebe milhões de turistas todos os anos.
(Aqui, “Paris” retoma “capital francesa” → anáfora)
A cidade mais visitada do mundo é incrível: Paris é repleta de cultura e arte.
(“A cidade mais visitada do mundo” antecipa “Paris” → catáfora)
c) Por elipse (quando o termo é omitido, mas compreendido)
João gosta de matemática; Maria, de português.
(O verbo gosta foi omitido, mas é retomado do primeiro enunciado → anáfora elíptica)
A importância da anáfora e da catáfora nos textos
Esses recursos ajudam a:
- Evitar repetições desnecessárias;
- Manter o fluxo do texto mais leve e natural;
- Garantir clareza e continuidade das ideias;
- Criar suspense ou expectativa (no caso da catáfora).
Na prática, são essenciais para que o leitor entenda quem é quem no texto e para que o autor consiga ligar as frases entre si.
Veja também: Exercícios sobre Anáfora e Catáfora 7º a 9º Ano
Exemplos práticos de anáfora e catáfora
Vamos analisar alguns trechos para identificar os dois fenômenos.
🔹 Exemplo 1 – Anáfora
Lucas comprou uma bicicleta nova. Ele pretende usá-la para ir à escola.
- “Ele” → retoma “Lucas”
- “la” → retoma “bicicleta nova”
→ Dois casos de anáfora.
🔹 Exemplo 2 – Catáfora
Isso é o que eu mais quero: viajar pelo mundo.
- “Isso” → antecipa “viajar pelo mundo”
→ Catáfora.
🔹 Exemplo 3 – Anáfora e Catáfora juntas
Eles estavam muito ansiosos: os alunos sabiam que o resultado sairia hoje. Esses estudantes esperaram o dia inteiro.
- “Eles” → catáfora (antecipa “os alunos”)
- “Esses estudantes” → anáfora (retoma “os alunos”)
→ Um mesmo texto pode ter os dois tipos de referência.
Erros comuns e como evitá-los
Ao trabalhar com anáfora e catáfora, é importante orientar os alunos a evitar ambiguidade e referências confusas.
❌ Exemplo de ambiguidade
João contou a Pedro que ele tinha ganhado o prêmio.
Quem ganhou o prêmio? João ou Pedro?
Esse tipo de frase mostra que, embora a anáfora exista, a referência não está clara.
Por isso, deve-se incentivar o uso de nomes quando houver risco de confusão.
✅ Melhor:
João contou a Pedro que Pedro tinha ganhado o prêmio.
Estratégias de avaliação
Ao avaliar produções textuais dos alunos, o professor pode observar:
- Se o aluno utiliza pronomes de forma adequada e clara;
- Se há coerência entre os elementos retomados e seus referentes;
- Se há repetição excessiva de termos;
- Se o texto mantém a continuidade do sentido sem falhas de referência.
Uma boa prática é marcar as referências com cores diferentes: azul para anáforas e verde para catáforas. Isso ajuda na visualização e compreensão.
Sugestão de sequência didática
Aula 1: Introdução à coesão textual – identificar repetições e substituições.
Aula 2: Conceito e exemplos de anáfora e catáfora.
Aula 3: Análise de textos (tirinhas, fábulas, notícias).
Aula 4: Produção textual com foco em coesão referencial.
Aula 5: Correção e reflexão sobre clareza textual.
Conclusão
A anáfora e a catáfora são fundamentais para a construção de textos coesos, claros e agradáveis de ler.
Ao dominar esses recursos, os alunos desenvolvem não apenas a capacidade de escrever melhor, mas também de compreender textos com mais profundidade, identificando relações entre ideias, pronomes e contextos.
Para o professor, o desafio é tornar o tema acessível e dinâmico, mostrando que essas palavras pequenas — como “ele”, “isso”, “aquele” — são grandes responsáveis por manter a unidade e fluidez do discurso.





