Ensinar concordância verbal e nominal é um desafio recorrente na sala de aula, especialmente nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio. Trata-se de um conteúdo essencial, pois aparece sistematicamente em redações, provas escolares, avaliações externas e vestibulares. Além disso, a concordância está diretamente ligada à clareza, fluidez e precisão textual, competências indispensáveis para a formação de leitores e produtores de texto críticos.
Nesta postagem, apresento um guia completo que você, professor, pode utilizar para ensinar ou revisar o conteúdo com suas turmas. O texto traz explicações detalhadas, exemplos variados, dicas didáticas, observações sobre exceções e pontos que os alunos costumam errar, além de orientações para aprofundar o estudo. Em pontos estratégicos, indico onde você poderá inserir seus links para atividades ou exercícios relacionados ao tema.
Ao final, há também sugestões de como trabalhar o conteúdo em sala de aula, ampliando o repertório dos estudantes e promovendo mais segurança no uso da norma padrão da língua portuguesa.
Veja também: O que é um Verbo?
O que é Concordância?
A concordância é o ajuste formal entre palavras dentro de uma frase. Ela garante que os elementos se harmonizem de acordo com número (singular e plural) e gênero (masculino e feminino).
Dividimos esse fenômeno em duas áreas principais:
- Concordância verbal: relação entre o verbo e seu sujeito.
- Concordância nominal: relação entre substantivo e seus complementos, como adjetivos, pronomes, numerais e artigos.
Quando os alunos compreendem bem a concordância, escrevem com mais clareza, evitam ambiguidade e produzem textos mais precisos. Mesmo quem já domina a norma costuma ter dúvidas em casos particulares, como verbos impessoais, expressões partitivas, porcentagens, sujeitos compostos e situações de dupla possibilidade.
Concordância Verbal
A concordância verbal estabelece que o verbo deve concordar com o sujeito da oração em número e pessoa. Parece simples, mas algumas situações exigem atenção especial.
A seguir, apresento uma explicação completa com exemplos, observações e estratégias para ensinar esse conteúdo de forma eficiente.
Regra geral da concordância verbal
O verbo concorda com o sujeito em número (singular ou plural) e pessoa (1ª, 2ª ou 3ª).
Exemplos:
- Eu gosto de estudar.
- Nós assistimos ao filme.
- Os alunos chegaram cedo.
- A diretora aprovou o projeto.
Essa é a base para o ensino da concordância. Antes de avançar para casos específicos, é importante reforçar que verbo nunca concorda com objeto, nem com adjunto adverbial, nem com apostos, a menos que haja estrutura explicativa posterior.
Por exemplo:
- Aos alunos da turma B falta material.
(Sujeito é “material”, não “aos alunos”.)
Sujeito simples
Quando há apenas um núcleo do sujeito, o verbo fica na mesma pessoa e número desse núcleo.
- O cachorro late muito.
- A professora explicou a atividade.
- O conjunto está completo.
Sujeito composto
Sujeito composto antes do verbo
O verbo vai para o plural.
- João e Maria viajaram.
- A calma e a paciência resolvem muitos conflitos.
- A cultura e a educação transformam sociedades.
Se os núcleos do sujeito forem de pessoas diferentes, prevalece a ordem:
1ª pessoa domina a 2ª e a 3ª
2ª domina a 3ª
Exemplos:
- Eu, tu e ele faremos o trabalho.
- Você e seus amigos viajarão.
Sujeito composto depois do verbo
O verbo pode ficar:
- no plural, concordando com todos os núcleos
- no singular, concordando com o núcleo mais próximo
Essa segunda possibilidade é bastante cobrada em provas.
Exemplos:
- Chegaram a professora e os alunos.
- Chegou a professora e os alunos.
- Surgiram dúvidas e incertezas.
- Surgiu dúvida e incertezas.
Ambas as formas são aceitas na norma padrão quando o sujeito vem depois do verbo.
Quando os núcleos estão ligados por ou
Expressão de exclusão
Verbo concorda com o núcleo mais próximo.
- João ou Maria ficará responsável.
- João ou os irmãos ficarão responsáveis.
Expressão de inclusão
Use o verbo no plural.
- João ou Maria viajarão amanhã.
Quando indica alternativa verdadeira ou falsa
A concordância pode seguir a proximidade.
Verbos impessoais
São verbos que não têm sujeito, portanto ficam sempre na 3ª pessoa do singular.
Principais casos:
- Haver no sentido de existir
- Haver indicando tempo decorrido
- Fazer indicando tempo
- Verbos que expressam fenômenos da natureza em sentido literal
Exemplos:
- Havia muitas pessoas no local.
- Houve problemas ontem.
- Faz dois anos que nos vimos.
- Choveu muito durante a madrugada.
Verbos com sujeito oracional
Quando o sujeito é uma oração inteira, o verbo fica no singular.
- É necessário que todos participem.
- Convém analisar os resultados.
- Importa que você esteja atento.
Verbos com expressões partitivas
Expressões como:
a maioria, a maior parte, grande número, parte de, percentagem de, metade de.
O verbo pode concordar:
- com o núcleo da expressão partitiva (singular), ou
- com o termo especificado (plural).
Exemplos:
- A maioria dos alunos concordou.
- A maioria dos alunos concordaram.
- Grande número de pessoas compareceu.
- Grande número de pessoas compareceram.
As duas possibilidades são aceitas, mas o singular é preferido em textos formais.
Concordância com porcentagem
- Se houver número especificado, o verbo concorda com esse número.
Exemplos:
- Dez por cento da turma faltaram.
- Dez por cento da turma faltou.
- Trinta por cento dos alunos entregaram o trabalho.
Concordância com coletivos
O verbo fica no singular quando o coletivo está sem especificação.
- A multidão aplaudiu.
- A equipe venceu.
Quando o coletivo é especificado, o verbo pode ir para o plural.
- A equipe de atletas viajaram cedo.
- A equipe de atletas viajou cedo.
Verbos parecer, chegar, faltar, bastar
Esses verbos geram erros comuns, especialmente quando seguidos por expressões como “para mim”, “a mim”, “a você”.
Exemplos:
- Faltam dez minutos para o intervalo.
- Falta pouco para a aula terminar.
- Chegaram três novas alunas.
Evite que o aluno confunda complemento com sujeito.
Concordância Nominal
A concordância nominal envolve a relação entre substantivo e seus determinantes:
- Artigo
- Adjetivo
- Numeral
- Pronome adjetivo
O elemento variável deve concordar com o substantivo em gênero e número.
Regra geral da concordância nominal
O adjetivo concorda com o substantivo que caracteriza.
Exemplos:
- Casa bonita.
- Casas bonitas.
- Menino educado.
- Meninas educadas.
Adjetivo após vários substantivos
Há duas possibilidades:
Adjetivo no plural
Concorda com todos os substantivos.
- Máquina e ferramenta modernas.
- Alunos e professores dedicados.
- Tia e sobrinha felizes.
Adjetivo no singular
Concorda com o substantivo mais próximo.
- Máquina e ferramenta moderna.
- Alunos e professores dedicado.
Embora permitido, o plural é geralmente preferido por clareza.
Adjetivo antes de vários substantivos
Adjetivo segue apenas o substantivo mais próximo.
Exemplos:
- Triste lembrança e arrependimento.
- Belo vestido e saia.
Substantivos de gêneros diferentes
Se o adjetivo vier depois dos substantivos, fica no masculino plural.
- A professora e o diretor responsáveis.
- A coragem e o empenho necessários.
Mas se vier antes, concorda com o termo mais próximo:
- Responsável a professora e o diretor.
- Necessário a coragem e o empenho.
Concordância com pronomes adjetivos
Os pronomes variáveis (meu, minha, seus, nossas etc.) concordam com o substantivo.
- Minha família.
- Meus amigos.
- Suas atividades.
Concordância com numerais
Os numerais variáveis concordam com o substantivo.
- Duas meninas.
- Dois alunos.
- Ambas as mãos.
Concordância com expressões invariáveis
Certas palavras são invariáveis e não sofrem concordância:
- meio (advérbio): Ela está meio cansada.
- bastante (advérbio): Os alunos estudaram bastante.
- alerta: Os soldados estão sempre alerta.
Importante diferenciar advérbio de adjetivo.
Exemplo:
- Ela comeu meia torta. (metade)
- Ela estava meio cansada. (um pouco)
Concordância com adjetivos compostos
Só o segundo elemento varia.
- Atitudes socioeconômicas.
- Relações histórico culturais.
- Homens luso brasileiros.
Exercícios sobre Concordância Verbal e Nominal
Temos algumas atividades disponíveis sobre Concordância Verbal e Nominal:
Exercícios de Concordância Verbal e Nominal para 7º e 8º Ano
Atividade de Concordância Verbal e Nominal para 6º Ano
Erros comuns dos alunos
Listo a seguir os erros mais frequentes que surgem em produções escolares:
- Concordar o verbo com o termo mais próximo, mesmo quando ele não é o sujeito.
- Esquecer o plural em sujeitos compostos.
- Usar verbo no plural com verbos impessoais.
- Errar a concordância em porcentagens.
- Colocar adjetivo no singular quando deveria estar no plural.
- Errar a concordância de pronomes possessivos.
- Usar advérbios como se fossem adjetivos.
Esses pontos são ótimos para trabalhar revisão gramatical e propor reflexões metalinguísticas.
Conclusão
A concordância verbal e nominal é um dos pilares da construção textual, e o domínio desse conteúdo amplia a clareza e a precisão das produções dos estudantes. Para nós, professores, trabalhar esse tema vai além da gramática: é auxiliar os alunos a compreenderem como a língua funciona e como esse funcionamento impacta a comunicação.
Ao oferecer explicações completas, exemplos contextualizados, exercícios variados e oportunidades de produção, você contribui para que os estudantes desenvolvam autonomia e segurança ao escrever. Use este material como referência, adapte conforme sua turma e complemente com seus links de atividades para aprofundar a aprendizagem.





